terça-feira, 14 de abril de 2009

Texto Masterclass - enviado

Uma vez que já terminou o prazo para se enviarem as cenas para a masterclass, e como acredito que não ressurgirá a polémica sobre este assunto, volto a postar a cena que enviei para o Aguinaldo.

Texto de João Sequeira Sousa

cena 1/casa de tieta/ quarto de tieta/ interior/ noite
Perpétua de olhos arregalados, boca aberta. Semicerra-os, olha ameaçadora para Tieta, depois para Ricardo.

PERPÉTUA – Porque é que ninguém me chamou?

Reacção de Tieta.

PERPÉTUA (Cont.) – É o meu dever de mãe, estar sempre perto dos meus filhos quando eles estão doentes.

TIETA (confusa) – Cê tá falando do quê, criatura?

PERPÉTUA – De meu filho Cardo na sua cama. (Pausa.) Doente!

Reacção de Ricardo.

PERPÉTUA (colocando a mão na testa de Ricardo) – Com esse olho arregalado e a testa ardendo de febre, Cardo só pode estar doente. Foi alguma coisa que você comeu?

TIETA – Cê endoideceu, Perpétua?

PERPÉTUA – (P/Tieta, fingindo não a ter ouvido) Não mereço uma irmã tão dedicada. Você é um anjo, uma santa. Ficar cuidando do sobrinho doente quando/

TIETA (Corta.)– De que doença cê tá falando? Cardo não tá doente.

PERPÉTUA (aponta com o guarda-chuva para a cama) – Como você pode dizer que ele não tá doente? Tá suando, rosto vermelho, olho arregalado e tão fraco que nem consegue falar. Com certeza foi alguma coisa estragada que ele comeu… (Pausa) Ou não foi?

RICARDO – Eu não tenho me sentido muito bem nos últimos dias…

PERPÉTUA (saindo) – Eu vou chamar o seu Bento da Farmácia, pode ser grave.

TIETA (impedindo a saída da irmã) – Não vá! Ricardo já tá… (Hesita) Medicado. É um resfriado sem importância.

PERPÉTUA – Resfriado? Ainda acho que foi alguma coisa podre que ele comeu…
Perpétua olha para Ricardo.

RICARDO – É um resfriado, mãe…

PERPÉTUA – Você reza demais, meu filho. Não pode ficar a noite inteira, ajoelhado no chão, passando frio. Depois fica doente. Tem certeza que não foi nada que comeu?

Ricardo nega.

PERPÉTUA – Você tem sorte, Cardo, em ter uma tia tão boa como Tieta. Como ela há poucas no mundo. Viu que o sobrinho tava doente, cuidou dele, deu medicamento e o meteu na cama. Tieta, você me promete que só sai de perto dessa cama quando Cardo estiver bom?

TIETA (embaraçada)– Eu prometo, Perpétua.

PERPÉTUA – Então posso dormir descansada essa noite, sabendo que meu filho tá sendo cuidado por uma tia tão dedicada.

Reacção de Ricardo e Tieta.

PERPÉTUA – Não mereço uma irmã tão bondosa, Tieta. (Abraça-a.) Me perdoe ter chamado você de quenga.

Perpétua sai. Reacção de Ricardo e Tieta.

3 comentários:

  1. Sem puxar saco, essa cena esta nos trinques! Eita que agora eu acho que o Imperador vai ter de ouvir o Bruno dele mais vezes (meu marido sempre diz que se eu o ouvisse mais vezes só sairia ganhando, risos). Com razao o Aguinaldo aprovou. Eu nao escrevi nada, mas imaginei outra coisa: de alguma forma comica, Pépetua sofreria uma queda e fingiria um desmaio seguido de uma amnesia!

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  2. Lara, o pior (ou o melhor) é que eu devia ouvi-lo mesmo mais vezes. Mas não lhe posso dizer isso, senão ninguém o aguenta... Obrigado pelo seu comentário.

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  3. OLá João! Não tenho conseguido postar mensagens no blog do Aguinaldo (dá senha errada direto), mas tenho acompanhado sempre pois sou uma das candidatas ao MASTER CLASS hehe. Realmente adorei a sua cena e senti uma semelhança, de leve, com a que enviei. Tomara que o mestre ache o mesmo rsrs. Realmente esta sua segunda arrasou, está super coerente e irônica, parabéns!

    De Luciana do Valle- de São Paulo, louca pra ir passar uma mês no Rio!

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